Custos de produção elevados, menor oferta e aumento sazonal na Quaresma pressionam cotações, com alta de até 24% em algumas regiões.
Os preços dos ovos no mercado doméstico brasileiro atingiram níveis históricos na primeira quinzena de fevereiro, com reajustes significativos nas principais regiões produtoras. De acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP), em Piracicaba (SP), o cenário é resultado de uma combinação de fatores, como a onda de calor, a baixa disponibilidade do produto e o aumento da demanda, especialmente no período que antecede a Quaresma.
Em menos de 15 dias, a cotação dos ovos vermelhos aumentou quase 24% no atacado na região produtora de de Santa Maria de Jetibá (ES), passando de R$ 223 a caixa com 30 dúzias no último dia 7 de fevereiro para R$ 276 nesta quinta-feira (20). Na região de Bastos (SP), o preço da caixa de ovos vermelhos passou de R$ 226 para R$ 241 entre os dias 7 e 20 de fevereiro. E, na Grande São Paulo, a cotação aumentou de R$230 para R$ 250 em menos de 15 dias.
Calor afeta produção e qualidade dos ovos
A zootecnista Gisele Neri explica que as altas temperaturas impactam diretamente a produtividade das galinhas. “Com o calor, a galinha bota menos ovos, e os que são postos têm qualidade inferior. A casca fica mais fina, o que aumenta as perdas durante o manuseio e transporte”, afirma. Esse fenômeno, somado ao aumento dos custos de produção, tem pressionado os preços no mercado.
Os insumos para a alimentação das aves, como milho e farelo de soja, também estão mais caros. Segundo o Cepea, o preço do milho subiu 12% em fevereiro, atingindo R$ 83,62 por saca. “A base da alimentação da galinha é o milho e o farelo de soja, e esses custos acabam sendo repassados ao consumidor final”, destaca Gisele.
Quaresma e sazonalidade influenciam preços
A pesquisadora do Cepea, Claudia Scarpelin, ressalta que o aumento nos preços dos ovos é um movimento sazonal comum no período que antecede a Quaresma. “Historicamente, os preços tendem a subir nessa época, e em 2025 não foi diferente. A valorização foi expressiva em fevereiro”, explica. Durante a Quaresma, é comum que o consumo de ovos aumente, já que muitas pessoas reduzem o consumo de carnes.
A perspectiva é que os preços comecem a baixar após o período religioso, quando a demanda tende a se normalizar. No entanto, o cenário atual ainda é desafiador para os produtores, que enfrentaram margens reduzidas em 2024 devido à queda nos preços dos ovos e ao aumento dos custos de produção. “Em 2025, com uma menor disponibilidade de ovos no mercado, os produtores conseguiram repassar esses reajustes de forma mais intensa”, analisa Claudia.
Impacto no consumidor e na cadeia produtiva
O encarecimento dos ovos tem reflexos diretos no bolso do consumidor e na cadeia produtiva. Além dos custos com alimentação das aves, os produtores precisam investir em estruturas climatizadas para minimizar os efeitos do calor, o que também eleva os gastos. “Outros custos, como embalagens, também pressionaram a cadeia no ano passado, reduzindo as margens dos produtores”, complementa a pesquisadora.
Enquanto o mercado aguarda uma possível estabilização dos preços após a Quaresma, o cenário atual reforça a importância de estratégias para mitigar os impactos das variações climáticas e dos custos de produção no setor avícola. Para os consumidores, a recomendação é buscar alternativas e acompanhar as tendências de preços nos próximos meses.